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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

bicicleta de bambu

Carioca vende bicicletas biodegradáveis de bambu na Dinamarca por Alexandre Mansur, para Revista Época

As bicicletas já são um meio de transporte ecológico, porque não gastam combustível nem poluem. Imagine se forem descartáveis. O desenhista industrial carioca Flavio Deslandes vende biclicletas biodegradáveis, com com armação de bambus, na Dinamarca. Ele desenvolveu o produto numa parceria com uma empresa de bicicletas de lá, a BioMega. O plano e fazer 100 unidades este ano. Vinte já foram vendidas para os ciclistas dinamarqueses. As bicicletas, que tem hastes de bambu no lugar dos tubos de alumínio convencionais, são feitas artesanalmente. Custam a partir de 3800 euros.

Flavio começou a pesquisar os bambus em 1995, quando estudava na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Pedalando pelas ciclovias da Lagoa Rodrigo de Freitas e das praias do Rio, ele teve a ideia de adaptar os bambus e fazer uma bicicleta com quadro biodegradável. Desde então, foram anos de pesquisa para descobrir as melhores técnicas para cortar e tratar os bambus. Além de como adapta-lo às necessidades da estrutura da bicicleta. Fiel às origens, Flavio usa nas bicicletas dinamarquesas bambus que manda trazer do interior do Rio.

“Usar os bambus para montar uma bicicleta é mais difícil do que fazer uma cadeira ou mesa”, diz Flavio. “O quadro da bicicleta é submetido a vários esforços e pressões enquanto se pedala.” Ele precisa agüentar os trancos na rua, o peso do ciclista e a trepidação do terreno irregular. Isso também é uma vantagem do bambu, segundo Flavio. “O bambu tem características próprias, diferentes do metal ou carbono usado nas bicicletas”, diz. “Ele combina flexibilidade e rigidez. Com isso, a bicicleta oferece mais conforto. Se você souber montar da forma adequada, uma bicicleta com estrutura de bambu funciona como um sistema de amortecedor, que absorve as vibrações do terreno. Isso é natural do material. Tanto que a vara de pescar de bambu é mais flexível do que a de fibra de carbono”, afirma.

O desafio é como lidar com a deterioração do material. A bicicleta fica do lado de fora, exposta à chuva e ao sol. Flavio diz que a durabilidade da bicicleta de bambu é a mesma que uma de alumínio ou carbono, por conta dos produtos químicos que ele usa para tratar o material natural.

“No entanto, se um cliente quiser o bambu sem tratamento, por que é mais ecológico, então ela vai durar menos ou requerer uma manutencão mais constante”, diz. Pode parecer difícil convencer muita gente a gastar alguns milhares de euros para comprar uma bicicleta que, mesmo bem cuidada, não dura mais do que dez anos. Para Flavio, esse é justamente parte do charme do produto. Flavio prefere não usar tratamentos químicos pesados, que poderiam prolongar a vida do bambu. Mas que significariam, para ele, um caminho no sentido de um material mais artificial. “A ideia é o oposto”, diz. “Faz parte da história saber que o bambu vai se decompor. O bambu é biodegradavel. A tendência é ele se desmanchar na natureza. Isso pode ser positivo para o meio ambiente. Se você enterrar aquilo, depois de alguns meses, virou poeira.” É uma extensão da filosofia de baixo impacto ambiental que o transporte ciclístico já tem.

Agora, a pesquisa de Flavio é para projetar uma bicicleta com toda a estrutura de bambu. Hoje, ele ainda usa metal nas juntas. Seu plano é substituir por materiais orgânicos biodegradáveis. Aí, depois de algum tempo, bastaria mesmo apenas descartar a armação da bicicleta, como fazemos com casca de frutas. E transferir as peças metálicas, como a roda e as marchas, para outra estrutura também perecível.

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